CARNE E ALMA

Embevecida olho-te.

Estás em mim o tempo todo 

a me devorar a carne, 

a alma, a engolir-me viva  divagando em desejos.

Em abraço eufórico 

me despertas de um sono.

Languidamente, 

me fazes refém 
de teus beijos.

De olhos fechados 

me deixo conduzir ao altar

onde pensas me sacrificar! 

Doce sacrifício; - ser tua!

Despe-me a roupa devagar, 

a devorar-me num olhar 

e calmamente, posta-me ao chão,

em cima de um tapete 

vermelho-ardente;

preparando-me, apalpando-me 

em fulgaz alucinação. 
Sacramentas o meu destino; 
ser tua saciez e, 

em profundas estocadas 

comandas a herege purificação 
da minh’alma 

em delírio, lambendo-me 

os pés, meus glúteos, 

meus seios...

O que posso 
te oferecer de melhor

que o meu prazer ?

Assim, distraido

em meus montes e grutas;

passas as mãos 

em meus contornos 

na pele de cetim, 

que começa a tecer fios 

de aventureiro prazer.

O meu coração 
está a saltitar.   
Perdi o autocontrole 
e, inadvertidamente, 
vou me abrindo pra você,

como se flor fosse, 

à espera do sugar 

do beija- flor multicor.

Deliciosamente, 

te alimentas de mim, 
inteirinha, até o fim 

do nosso estremecer.

Aconteces e não sei evitar.

Sei que sigo 
dentro do teu olhar 
a invadir-te a alma, 
não sei parar de te fitar 
e lânguida, enternecida,

emudeces minha boca 

em mil beijos, a calar até meus pensamentos,

num rebento de estrelas 

no ventre do céu!

Edna Fialho Em 08/12/2008